O momento atual: livro vende?

Começa, hoje, a XVII Bienal Internacional do Livro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Maior evento do mercado editorial brasileiro, grande momento para a cultura literária. Outro começo: Esta semana, uma notícia chocou a galera dos livros e os jornalistas: o encerramento de um dos principais cadernos de literatura do país, o Prosa, do jornal O Globo. Ou seja, o maior evento de promoção (no sentido de promover) de livros chega na mesma semana em que o maior grupo de comunicação do Brasil mostra, aparentemente, que cultura, incluindo livros e literatura, não merece espaço nem notícias na mídia. O que pensar sobre isso?

No início de agosto – ou seja, há cerca de um mês –, duas grandes companhias editoriais demitiram funcionários: a Saraiva e a Record. Contenção de gastos, devido ao momento delicado da economia. No último dia 27, o 6º Painel das Vendas de Livros do Brasil divulgou dados que mostram que, pela primeira vez neste ano de 2015, as vendas de livros caíram em todo o país – entre os dias 13 de julho e 9 de agosto, houve variação negativa tanto em volume (-5,5%) quanto em faturamento (-3,1%), em comparação com o mesmo período de 2014. Há poucos meses, outras notícias também já tinham atingido em cheio a galera livreira. Uma das principais foi a divulgação do fim das atividades da livraria Leonardo da Vinci, das mais tradicionais do Rio de Janeiro. Na ocasião, a herdeira do negócio afirmou que era “inviável” continuar. Ou seja, parece que o retrato do momento é este mesmo: de que “livro não vende”, ou já não vende tanto assim.

A tal “crise” econômica está aí, e o mercado editorial tem sentindo bastante. No meu universo profissional particular, a queda das vendas de livros é clara e foi brusca. (E me parece que a área que mais sofre é a de não ficção, a menos “glamourizada” – percepção minha, nada comprovado.) Mas o que esperar da Bienal, então?

Pois é, vamos ver como serão o movimento e as vendas de livros este ano, se haverá impacto também ou não. Mas, de cara, já dá para saber de uma coisa: a Bienal aposta em um nicho particular, o público teen, com os famosos best-sellers que movimentam a garotada loucamente. E este mercado mostra que ainda tem força, acho inclusive que é o que mais gás tem apresentado. Então, apesar de ser curiosamente contraditório, a uma primeira vista – em relação ao fato que abre este post, o término do caderno Prosa, assim como aos acontecimentos anteriores, de demissões em grandes editoras e fechamento de livrarias–, é possível, e muito provável, que o maior evento literário brasileiro seja um sucesso de público e de vendas este ano, sim, mais uma vez. Mas o momento não deixa de ser triste e crítico. Precisamos investir em todo o mercado editorial brasileiro, não apenas em um nicho, e temos, principalmente, que investir no livro nacional. Há inúmeros bons escritores por aqui. Valorizemos nossos produtos! A (boa) continuação do mercado nacional de livros depende também de nós, leitores. Porque, no fim das contas, eu acredito que livros “vendem” e “venderão” (em todos os sentidos), sim, sempre.

Quanto ao Prosa, vale ressaltar que apesar de haver aquele pensamento de que “livro não vende” (não vende jornal), há muito mais por trás desse encerramento. Foram dezenas de demissões n’O Globo no início desta semana, retrato de uma crise que o jornalismo enfrenta, como um todo. A situação na área está bem mais complicada, e é também mais complexa e delicada. Mas achei a coincidência dos dois fatos na mesma semana curiosa e oportuna para refletir sobre o momento do mercado editorial brasileiro. Esta é apenas uma divagação de alguém que ama livros e acha que eles devem ser valorizados sempre, em todos os cenários possíveis.

3 comentários

  1. Então creio que o fechamento do caderno prosa deve ser considerado o fechamento do próprio jornal uma vez que eu não tenho muito interesse somente por política ou só cultura ou só arte, um jornal deve ser completo, um conjunto, isso significa que para o consumidor o jornal estará incompleto ainda mais se a seção não for substituída por outra coisa tão interessante quanto e o preço desse jornal em questão não diminuir.
    É uma pena, mostra que o Dollar sobe, e nossa cultura talvez nem exista.

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